sexta-feira, 9 de setembro de 2011

 Hoje acordei às seis horas da manhã; logo eu, que trocava o sol pela lua, que costumava queimar as retinas só depois do meio dia. Hoje percebi que a rotina de um homem pode mudar, antes eu só sabia. A simples mudança de horário me fez despertar; hoje eu senti, na pele, a metamorfose cotidiana - e sentir é diferente de saber.
 Substituí o refresco pelo café, o cigarro pelo charuto.
 Eis a palavra: Mudança.
 Desde o falecimento de Penélope - minha esposa - eu estava vivendo sem viver; era como se eu acordasse, abrisse os olhos, mas, mesmo assim, continuasse dormindo. Eu assistia, pela janela de meu apartamento, todos os homens, e mulheres, indo e vindo, pisando onde outros pisaram segundos antes, cuspindo onde outros cuspiram momentos antes; via mulheres chorando a miséria nas calçadas, via homens traindo esposas com moças da vida, e nada me parecia real. Comia, e a comida tocava os pontos sensitivos de minha língua sem provocar nenhum prazer ou nenhuma aversão; as dores da carne já não eram tão insuportáveis. Desde que Penélope resolveu ser mais uma estrela brilhante no céu, eu ia vivendo assim, como se sonhasse de olhos abertos, como um sonambulo que comia, bebia e defecava; mas hoje - não sei porquê hoje - me senti vivo ao acordar, com o sol queimando minha face, já achando estranho o incômodo que isso me causava, já achando estranho algo me estar causando alguma sensação.

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